sábado, 9 de janeiro de 2010

PORTUGAL COM…F









José Saramago defendeu, há bem pouco tempo, a constituição da Ibéria. Em Portugal logo se levantaram vozes alteradas, indignadas perante tal dislate antipatriótico. Muitos acusaram logo o nosso prezado Nobel de não andar bom da cabeça desde que o seu coração e o de uma tal Pilar (a quem passou a dedicar todos os livros), esses sim, se uniram num profundo iberismo amoroso.

O seu devaneio ainda não se concretizou, nem concretizará, pelo menos, nos tempos mais próximos. O apoio de sete ou oito milhões de Portugueses (pelo menos!) não seria suficiente para sufocar a oposição de quarenta milhões de Espanhóis (descontando algumas centenas de Galegos com ligações de vária ordem ao Norte da Pátria Lusa). Os tempos do Santo Condestável já lá vão e, nos tempos que correm, tal desproporção de cabeças conduziria inapelavelmente ao insucesso.

O que há a dizer, porém, é que, se por um lado, Saramago parece ter sempre gostado de uma boa polémica, desta vez, esta quase morreu antes de nascer. Na verdade, numa nação que germinou dos desaguisados entre a mãe Teresa e o filho Afonso, o amor à Pátria nunca andou tão rasteiro. Motivos, infelizmente, não faltam. A Justiça é, seguramente, a exemplo mais gritante.

O Povo, que às vezes também se engana, neste caso, tem a clara percepção de que existem, pelo menos, duas justiças: a dos ricos e poderosos, por um lado, e a dos pobres e fracos, por outro. Nem sequer é preciso estar muito atento às notícias para perceber de onde deriva tal percepção – os casos são tão frequentes que, mesmo quem perca mais tempo a ver telenovelas do que telejornais, ou a fazer coisas mais interessantes do que a ver televisão, acaba por apanhar algum caso.

Mas nem tudo é mau: mesmo neste país no extremo (Ocidental, mas não só!) da Europa, percebe-se, por exemplo, que as autoridades vão tendo meios sofisticados de investigação. Pelo menos, ouvidos de tísico parecem ter. O problema é que, por questões de procedimento legal, é frequente não se poderem aproveitar esses meios e as provas que eles recolhem. Não me alongo mais, mas é como se, uma equipa de futebol, por ter perdido o jogo, alegasse que não tinha valido porque, por exemplo, tinha passado um bando de passarinhos por cima do relvado, porque um caracol tinha comido dois ou três fios de relva na grande área, ou por outro grandioso motivo qualquer.

Já são muitas as vozes que alvitram que isto já não tem conserto, que a, outrora, ditosa pátria está ingovernável e moribunda. Estou certo, porém, de que candidatos à salvação nacional não faltarão, pois, se não se salvar esta, que se salvem os salvadores, que, claro está, também fazem parte da nação. Há quem diga que este país é uma sucata. Que exagero! Tem é alguns sucateiros, é certo. Mas não só… Tem também figos ao preço do ouro, apitos da mesma cor, taxistas que ganham milhões na Suiça, sacos da cor do FCP, retornadas/ex-refugiadas políticas no Brasil, distribuidores credenciados de electrodomésticos gratuitos, submarinos que se afundam demasiado, mestrados a preceder licenciaturas etc. etc., etc.

Mas… o tempo é de Natal, de paz, amor, fraternidade e solidariedade. Convém que os discursos sejam, também eles, mais doces, conciliadores e optimistas. "Não nos conformemos!" – alguém nos sugere. Com efeito, há ainda alguns (poucos) exemplos da grandeza do coração lusitano. Registe-se um dos mais recentes: Maria da Conceição, de trinta e dois anos, Portuguesinha da Silva, a viver no Dubai, assistente de bordo da Emirate Airlines, foi nomeada Mulher do Ano nos Emirados Árabes Unidos, no passado dia dezassete de Novembro. Esta alma venerável decidiu criar uma obra de solidariedade social, capaz de dar educação, alimentação, cuidados de saúde, bem como apoio comunitário a mais de meio milhar de crianças carenciadas de um subúrbio de Daca, capital do Bangladesh. É uma mulher de coragem, um exemplo de que o amor e dedicação ao próximo poderão trazer o que de mais relevante, afinal, se pode levar desta vida. É pena andar por terras mouras e não pelas nossas, tão carentes deste espírito cristão…

Por cá, e voltando ao futebol, apetece dizer que o que nos vale é a bola. Atrevam-se a citar outras áreas em que os tugas ocupem os primeiros lugares (não a contar do fim, claro!) como no caso da redondinha! Continuamos a ser a pátria dos Fs: Fátima, Fado e Futebol. E nem precisámos de um golo irregular como os fortalhaços dos Gauleses e também já não nos é exigido o consentimento do rei para empreender outro F como acontecia, noutros tempos, nas Terras de Sua Majestade. Moral da história: dêem-nos milagres que nós acreditamos, dêem-nos música que nós dançamos; dêem-nos bola que nós esquecemos…



PROF. AFONSO BRITO




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