sábado, 9 de janeiro de 2010

SEBASTIÃO RODRIGUES…MADE IN PORTUGAL

Sebastião Rodrigues nasceu em 28 de Janeiro de 1929, no Dafundo, Lisboa, no seio de uma família, que, segundo ele próprio, podia ser considerada remediada.

Passou os anos de infância de forma despreocupada e livre numa Lisboa onde, como canta Carlos do Carmo, os rapazes parecem bandos de pardais á solta, e assim cresceu feliz.

Na escola primária do Dafundo, fez a 4ª classe, matriculando-se depois no curso de serralheiro mecânico da Escola Industrial do Marquês de Pombal, onde iria ter um grupo docente de artistas que viriam a ter um papel determinante na iniciação da sua futura profissão.

Foi o pai que lhe introduziu o gosto pelo cheiro das tintas e o barulho das máquinas de impressão tipográfica do Jornal onde trabalhava. É assim que tem os primeiros contactos com as artes gráficas.

Em 1945, Sebastião Rodrigues começa a trabalhar para o atelier APA (Agência de Publicidade Artística), tendo como chefe gráfico Alberto Cardoso e como companheiro mais velho de ofício Manuel Rodrigues. Este último iria orientá-lo na sua evolução como artista gráfico, que passa pela pesquisa e descoberta das técnicas gráficas e pelo apurar da sua linguagem plástica.

José Cardoso Pires, seu amigo e cúmplice desse espírito criativo, descrevia-o como "Gato". Na verdade, era esguio e discreto como um gato de segredos, sensível, avisadíssimo. Criatura de gestos sóbrios, olhar rápido. Uma inteligência felina e um humor muito privado, quase escondido. Enfim um "gato". É sendo assim que sobrevive mais de quarenta anos, num estado onde o sentido democrático tropeça com as almas criativas.

O trabalho do artista gráfico passou inicialmente pela realização de cartazes, folhetos e montras, numa altura em que fazia tarefas de designer gráfico mesmo antes de o termo existir. Foi-se tornando conhecedor como poucos de todo o processo tipográfico e, mais tarde, da impressão em offset. Assim, desenvolveu laços de trabalho e amizade com impressores, compositores gráficos, montadores e retocadores que o ajudaram na concretização dos seus projectos. Com eles aprendeu os segredos que só estão ao alcance dos mais audazes, técnicas que lhe permitiram interpretar e tornar em imagens impressas projectos de grande qualidade e ambição técnica. João Gonçalves, um dos melhores fotógrafos gráficos do seu tempo, é um desses casos. Com ele aprendeu a analisar uma imagem através da selecção de cor.

Tecnicamente, estávamos ainda longe dos meios informáticos dos nossos dias, mas Sebastião Rodrigues assistiu à mudança tecnológica e alertava para os seus perigos e equívocos, com consequências imprevistas para o futuro, para a dependência desses meios em virtude do nosso pc portátil ter mais capacidade que é o cérebro humano.

Sebastião Rodrigues inspirou-se, por exemplo, nos caracteres egípcios, na caligrafia clássica, onde só se utilizavam as letras maiúsculas, no folclore (costumes) nacional e no artesanato. A par destas influências, encontramos inspiração nas correntes artísticas vigentes na primeira metade do Séc. XX: o Cubismo, o Dadaismo, o Surrealismo e, como não poderia deixar de ser, a linguagem moderna, limpa, polida e sem artifícios do Modernismo. Esta última é a mais importante fonte de inspiração na sua obra.

Lembrar Sebastião Rodrigues é evocar a profissão de Designer, ou melhor, a antiga profissão de artista gráfico. E isso é tanto mais importante quando compreendemos o seu percurso e a sua obra para entendermos como foi conseguida à base do rigor e de muito trabalho prático. Foram horas a fio a fazer cores, a escolher papéis, a fotografar, a recortar, a colar, a desenhar letras, a decalcar letras, tudo passos que, no design dos nossos dias, foram substituídos por ferramentas informatizadas, que tornam muitas vezes o tarefa do designer impessoal, computorizada, sem se perceber a origem e o porquê das coisas. Com efeito, hoje o e-mail substituiu o contacto com os técnicos da gráfica, algo que impede o antigo sentir o cheiro das tintas.

A sua obra é vasta, cheia de referências para os novos designers, marcante para quem de perto contactou com ela. Recordo com satisfação os meus tempos de estudante, as minhas visitas à Fundação Calouste de Gulbenkian, e a impressão que me causou a consolidação da marca Gulbenkian através do bilhete do catálogo dos cartazes das obras mais emblemáticas. E, tudo isto, da responsabilidade de Sebastião Rodrigues.



Prof. Joaquim Varanda

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